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domingo, 8 de fevereiro de 2015

ESCRITOR INFANTIL DO MÊS

RUTH ROCHA




RODA DE LEITURA RACHEL DE QUEIROZ





                                                                               
                                                                         
 
 
  
Memórias póstumas de Brás Cubas
"É esse poder de restaurar o passado para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos."

"Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis."

"A velhice ridícula é porventura a mais triste e derradeira surpresa da natureza humana."

"O tempo caleja a sensibilidade e oblitera a memória."

Se não guardas as cartas da juventude, não conhecerás um dia a filosofia das folhas velhas."

"Se guardares as cartas da juventude, acharás ocasião de 'cantar uma saudade'."

"Não se pode atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais."

"As boas ações são contagiosas, quando públicas."

"Trata de saborear a vida."

"A pior filosofia é a de choramingas."

"O ofício das águas é não parar nunca."

"Há cousas que melhor se diz calando."

"Remorso é uma consciência que se vê  hedionda."

"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

    
 Dom Casmurro:

"Quantas intenções viciosas há [...] numa frase inocente e pura".

"Aos quinze anos, tudo é infinito".

"A alma é cheia de mistérios".

"Um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde, mas falta eu mesmo, e esta lacuna é tudo."

"Os olhos continuavam a dizer coisas infindas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas, como vinham."

"Como o homem muda!"

                             "Posto sempre fosse homem de terra conto aquela parte da minha vida, como um marujo contaria o seu naufrágio."

"Capitu tinha meia dúzia de gestos únicos na terra. Aquele entrou-me pela alma dentro".

"Entre nós só faltava dizer a palavra última".

 Quincas Borba

"O homem só ama o que lhe é aprazivel ou vantajoso."

"A paisagem depende do ponto de vista."

"Sofia tinha os olhos mais belos do mundo"

"Crede-me: há tiranos de intenção."

"O silêncio é um tumulto"

"Não é o hábito que faz o monge"

"Pediu-me que a certa hora olhasse para o cruzeiro, a fim de que as nossas almas se encontrassem"

"Foi à janela e exclamou dali para os dois: -- Lá vem o luar entrando."

"A terra natal por menos bonita que seja (...) dá saudades à gente."

"A enseada, vista pelas janelas, apresentava aquele aspecto sedutor que nenhum carioca pode crer que exista em outra parte do mundo."



GRANDE SERTÃO VEREDAS

"Viver é negócio muito perigoso

A gente na velhice, carece de ter sua aragem de descanso.

Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa.

Minha velhice já principiou qualquer sombrinha me refresca.

Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar se querendo o mal, por principiar.

Deus é paciência

Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias

Dor do corpo e dor da idéia marcam forte, tão forte como dor de amor e raiva de ódio.

O senhor... mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.

Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar.

Viver é muito perigoso...

Por esses longes.

Diz-se que tem saudade de idéia e saudade de coração...

papabanana; azulêjo; a garrincha -d-brejo; suirirí; sabiá-parque; grunhaté-do-coqueiro

Nosso rio é  o tempo

Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume das brasas.

Perto de muita água, tudo é feliz.

Sertão: esses seus vazios eu me lembro das coisas, antes delas acontecerem...

Outro mês, outro longe.

creio e não creio. 

Tem coisa e cousa

Treva toda do sertão


Ver o luar alumiando(...) e escutar como quantos gritos o vento se sabe sozinho, na cama daqueles desertos.

Eu atravesso as coisas e no meio da travessia não vejo! -- só estava era entretetido na idéia dos lugares de saída e de chegada.

Viver nem não é perigoso?

"Ser dono definito de mim, era o que eu queria."

Redigo

"O Arrenegado/o Cão/o Caramulhão, o Indivíduo, o Galhardo, o Pé de Pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O côxo, o Temba, o Azarape, o Coisa-Ruim, o Mafarro, o Pé-Preto, O Canho, O--que--nunca--se--ri, o Semi-Gracejos... o Tristonho, o Duba-Dubá, O Rapaz, O Tristonho, o Não --sei-- que diga."

"Saio do meio de vós para todo o nunca"

"Toda saudade é uma espécie de velhice"

Quem é pobre pouco se apega

Zezinho Zé-zim

Eu gosto muito de  mudar

nome de lugar onde alguém já nasceu, devia de estar sagrado

Deus é definitivamente

Deus não está no morto

Recordo tudo da minha meninice. Boa, foi. Me lembro dela com agrado, mas sem saudade.

Aragem dos acasos. Para trás não há paz.

E tinha os restos de uma casa, que o tempo viera destruindo; e um bambual, por antigos plantado, e um ranchinho.


E de tardinha, quando voltou o vento, era um fino soprado seguido, nas palmas dos buritis, roladas uma por uma.

A ver, e o sol, em pulo

De avanço, longe na banda de trás, por cima de matos, rebentava, aquela grandidade. Dia desdobrado.

O mundo se envelhecendo, no descampante.

Era um sol em vazios.

Se viu o sol de um lado deslizar, e a noite armar do outro.

Cão que olha

Deus come escondido, e o diabo sai por toda parte lambendo o prato.

No sertão até enterro simples é festa.

A colheita é comum, mas o capinar é sozinho...

guerra diverte - o demo acha.

Com Deus existindo, tudo dá esperança.

Deus existe mesmo quando não há.

O demônio não precisa existir para haver.

Nasci para não ter homem igual em meus gostos.

O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.

Diadorim era aquela estreita pessoa -- não dava de transparecer o que cismava profundo.

O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.

Guardo isso, para às vezes ter saudade.

No viver tudo cabe.

Viver é um descuido prosseguido.

Sempre gosto de tornar a encontrar em paz qualquer velha conhecença.

A saudade de Diadorim voltou em mim.

Bela é a lua, luatã, que torna a se sair das núvens, mais redondada recortada.

Rio meu de amor é o Urucúia.

O sertão é do tamanho do mundo

Rio é só o São Francisco, o Rio do Chico...

O barulhim do rio era ele bicho em bicheira.

A morte pôde mais.

Mau maior oculto.

Abaixou as vistas

De primeiro meu coração sabia bater copiando tudo. Hoje, eu desconheço o arruído rumor das pancadas dele.

Tem horas em que penso que a gente carecia, de  repente, de acordar de alguma espécie de encanto. As pessoas, e as coisas, não são de verdade? E de que é que, a miúde, a gente adverte incertas saudades?

A quanta coisa limpa verdadeira uma pessoa de alta instrução não concebe!

Viver é muito perigoso...

Sem ação, eu podia gastar ali minha vida inteira debulhando.

Cada hora, de cada dia, a gente aprende uma qualidade nova de medo!

Viver é etcétera


A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros que nem não misturam.

De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa.

Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras , de recente data.

Ao doido doideiras

Será que a vida socorre à gente certos avisos?


Mesmo pessoa amiga e cortês, virando patrão da gente, vire mais rude e reprovante.

longes olhares

alembro

Era o enfim

jiráu

O que demasia na gente é a força feia do sofrimento, própria, não é a finalidade do sofrente.

Os s olhos nossos donos de nós dois.

O que mão a mão diz é curto.

A vida não é entendível.

manhãzando

passarim

manoelzinho -da-crôa


pessoas limpa,  pensa limpo.

Um rio é sempre antiguidade.

Eu era de mim.

Eu carecia de sozinho ficar.

Desespero quieto às vezes é o melhor remédio que há.

Amizade dada é amor.

Gostava de mim com a alma.

E, olhe: tudo quanto há, é aviso.

lindorífico

sonhejando

Guardei os olhos, meio momento, na beleza dele.

Estou remexendo o vivido longe alto.

cacei Diadorim

Toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada.

Amigo é (...) sem precisar de saber o por quê.

Eu gostava, permanecente.

Quase tudo o que a gente faz ou deixa de fazer, não é, no fim, traição?

Gostava dele na alma dos olhos.

Meu corpo gostava do corpo dele

Diadorim me agarrava com o olhar.

Em Diadorim era que eu pensava, de fugir junto com ele era que eu carecia, como o rio redobra.

Pudesse tirar de si esse medo-de-errar, a gente estava salva.

desdigo

A gente parava (...) em alcance dos olhos.

O espirito da gente é cavalo que escolhe estrada: quando ruma para tristeza e morte, vai não vendo o que é bonito e bom.

Coração mistura amores.

Com ajuda do ódio que se tem a uma pessoa que o amor tido a outra aumenta mais forte.

O que lembro, tenho.

Venho vindo, de velhas alegrias.

A gente estava em maio quero bem a esses maios, o sol bom, o frio de saúde, as flores no campo, os finos ventos maiozinhos.

Ali a gente não vê o virar das horas.

Trabalho de segurar a alma endurecer as mãos.

ermo dos gerais.

A lua subia (...) abençoando redondo o friinho de maio.

Tempo do verde no coração.

Sem pertencências.

Garoou, para a aurora.

Alpondras

osga

cordura

A vida é ingrata (...) mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero.

Acho que o sentir da gente volteia.

quasso

sucíire

Amor que amei.

A sombra da gente uma só uma formava.

Atrás do pedação de pedra.

Mas só se sai do sertão é tomando conta dele a dentro.

Foi um momento movimentado.

matlotagem

O passar da água cantava friinho, permeio, engrossa, e a gente aprecia o cheiro do musgúz das árvores.

repimpado
enfunando as redes
impava

Puxou a beira da minha rede, para a gente falar quase cara a cara.

E muitas idas marchas: Sertão sempre. Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera.

Diadorim, comigo.

Tem horas em  que me pergunto: se melhor não seja a gente tivesse de sair nunca do sertão. Ali era bonito (...) não se carecia de fazer nada.

Bondosos dias.

O que é de paz, cresce por si.

O remôo do vento nas palmas dos buritis todos, quando é ameaças de tempestade. Alguém esquece isso? O vento é verde. Aí, no intervalo, o senhor pega o silêncio põe no colo.

O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. (...) Diadorim, meu amor... Como era que eu podia dizer aquilo? O pensamento dele em mim escorreu figurava  diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma apartado completo do viver comum como quando a chuva entre - onde- os campos. Tudo tem seus mistérios (...).

Jagunço amolece quando não padece.

Sofrimento passado é glória, é sal em cinza.

Ver belo: o céu poente de sol, de tardinha, a roséia daquela cor (...) flores pelo vento desfeitas.

Jagunço é o sertão.

Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Deus é que me sabe.

Um sentir é o do sentente, mas o outro é dos sentidos. Cair não prejudica demais -- a gente levanta, a gente sobe, a gente volta!

Que é que diz o farfal das folhas? Estes gerais, enormes, em ventos, danando em raios, e fúria, o armar do trovão, as feias onças. O sertão tem medo de tudo.

Deus é alegria e coragem -- que Ele é bondade adiante, quero dizer. O senhor escute o buritizal.

O Chapadão é sozinho -- a largueza. O sol. O céu (...) o verde carteado do grameal.

Desde o raiar da aurora, o sertão tonteia.

Amor eu pensasse. Amormente.

Esses gerais em serras planas, beleza por ser tudo tão grande, repondo a gente pequenino. Mas o mundo falava, e em mim tanto sonho se desmanchando, que se esfiapa com o subir do sol, feito neblina noruega movente no frio de agosto.

Só os pássaros, pássaro de se ouvir sem se ver.

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito -- por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia.

A liberdade é assim, movimentão.

 Almaviva

 de tardinha.

Respirar a alma daqueles campos e lugares.

Nonada. A aragem.

Eu e eu.

 Assim é que é, assim.

Obedecer é mais fácil que entender.

A gente sabe mais, de um homem, é o que ele esconde

Aquele homem me sabia, entendia meu sentimento

uma flor airada enfeitando o espírito do daqueles cabelos curtos

umburana (árvore da caatinga)

A vinte-e-seis-cheirosa


Ontem,  dia 06/08/2015,  nossa roda de leitura teve a honra da visita do Professor Guillermo Arias Beaton (Professor de psicologia da Universidade de Havana) e da professora Cristiane da escola João Sussumu Hirata



09/08/2015 
Até as pedras esperam.

Deus existe, sim (...) mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus.

Coisas imensas no mundo.

O Grande -Sertão  é a forte arma. Deus é um gatilho?

É no junto do que se sabe bem, que a gente aprende o melhor.

Candonga - contrabando

chuva de pedra

Aos perigos, os perigos

Eu estava estando

Desapartamos

Quem bem-trata gato consegue boa sorte

o dia envelhecia

A razão normal de coisa nenhuma não é verdadeira

O sertão é sem lugar

Alta manhã

A desordem da vida podia sempre mais do que a gente?

Doidagem desses comuns repentes, o desfazer do ajuntado.

Fôlego e paciência, a gente sempre tem - é só requerer e repuxar.

até ver o sereno do anoitecido

A vantagem do valente é o silêncio do rumor...

Quem vence, é custoso não ficar com a cara de demônio

araras macha

tudo nesta vida (...) carece de direito de se acertar.

Pensar na pessoa que se ama, é como querer ficar à beira dágua, esperando que o riacho, alguma hora, pousoso esbarre de correr

folhas polvreadas

com os vivos é que a gente esconde os mortos

redigo

mente pouco, quem a verdade toda diz

Aqueles outros (...) não merecem a palavra dada

papocar

até a noitinha se ilustrar

Escogitei

Todo tempo me gasta

Daqui a pois sai é a lua

Anoitecido. A uma estrela se repicava

matula

no meio daquele luar, me lembrei de Nossa Senhora

Entardecia. Derradeira arara ja revoava

__"... Você se casa, Riobaldo, com a moça de Santa Catarina. Voc~es vão casar, sei de mim, se sei; ela é bonita, reconheço, gentil moça paçã, peço a Deus que ela te tenha sempre muito amor... Estou vendo vocês dois juntos, tão juntos, prendido nos cabelos dela um botão de bogari. Ah, o que as mulheres tanto se vestem: camisa de cassa branca, com muitas rendas... A noiva, com o alvo véu de filó..."

Agora falava devagarinho, se sonsom (...) altas borboletas num desvoejar. Como se eu nem estivesse ali ao pé. 
Ele falava de Otacília. Dela vivendo o razoável de cada dia, no estar. Otacília penteando compridos cabelos e perfumando com óleo de sete- amores, para que minhas mãos gostassem deles mais.

a gente só sabe bem aquilo que não entende

sertão(...) o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, por sí, quando a gente não espera, o sertão vem.

De homem que não possui nenhum poder nenhum, dinheiro nenhum, o senhor tenha todo medo!

convém  nunca a gente entrar no meio de pessoas muito diferentes da gente. Mesmo que maldade própria não tenham, eles estão com vida cerrada no costume de si, o senhor é de externos, no sutil o senhor sofre perigos.

tem muitos recantos de muita pele de gente

aprendi dos antigos. o que assenta justo é cada um fugir do que bem não se pertence. parar o bom longe do ruim, o são longe do doente, o vivo longe do morto, o frio longe do quente, o rico longe do pobre.

nunca o senhor põe ouro, na outra prata; depois, para ninguém não ver, elas o senhor fecha bem.


Carece de ter coragem....' -- Eu relembrei. Eu tinha. Diadorim vindo do meu lado, rosável mocinho antigo, sofrido de tudo mas firme, duro de temporal, naquelas constâncias. Sei que amava, não amava?

Eu ainda não era ainda

Viajar! -- mas de outras maneiras: transportar o sim desses horizontes!

cavalo selado, montado, e muito chão adiante. Viajar! -- mas de outras maneiras: transportar o sim desses horizontes!...

A poeira e miséria. Azul desbotado poído, sem os realces. O sol carregando de envelhecer antesmente as folhagens

Algum dia (...) hei de esquecer aquilo

instantezinho enorme

onde o campo se alargueia

O que imponho é se educar e socorrer as infâncias deste sertão!

Sobravam só os passarinhos, soltos como de toda parte no igual, que piaram uns momentos, pelo acabar da tardinha, alegres assim no empobrecido

Cada dia é um dia

O chão, em lugares, guardava molde marcado dos cascos de muitíssimas reses, calcados para um rumo só - um caminho eito.

Aqueles rastros tinham vigorado por cima da derradeira lama da derradeira chuva.

um bom entendedor, num bando, faz muita necessidade 

De noite, o destino da gente, às vezes conversa, susurra.

meu coração não é meio destino?

Tudo é gerais...

vereda mortas

moços olhos

eu tinha grande desprezo de mim, e tinha cisma de todo o mundo

Vijiei Diadorim; ele levantou a cara. Vi como é que olhos podem. Diadorim tinha uma luz.

O que Diadorim relembrava me lembro de hei-de-me lembrar, enquanto Deus dura.

A arte do Coisa-má

O Cujo

Figura

Sem crer, cri.

Demo

Eu queria uma saudade, para isso rezei, a todas as minhas Nossas Senhoras Sertanejas

No ar dos ventos

No estado de viver, as coisas vão enqueridas com muita astúcia: um dia é todo para a esperança, o seguinte para a desconsolação

Sempre eu gostava muito dele. Só que não falasse; por aquele tempo eu quase não abria boca para conversação

Vivendo se aprende, mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

Conheci que fazendeiro-mór é sujeito da terra definitivo, mas que jagunço não passa de ser homem muito provisório

Somente com a alegria é que a gente realiza bem - mesmo até as tristes ações

Ser forte é parar - quieto; é permanecer

Ah, esta vida, as não vezes, é terrivel bonita, horrorosamente, esta vida é grande. Remordi o ar: -- Lúcifer! Lúcifer!

O senhor sabe o que o silêncio é? E a gente mesmo, demais

Aragem do sagrado. Absolutas estrelas!

E a noite não descamba

Fui vindo m'embora

A claridadezinha das estrelas indicava a raso a lisura daquilo

Foi orvalhando. O ermo do lugar ia virando visível, com o esboço no céu, no mermar da d'alva. As barras quebrando

Posso me esconder de mim?  Soporado, fiquei permanecendo

Os passarinhos na madrugança

Assaz, a gente vive, assaz alguma vez raciocina. Sonhar, só, não

De tantas coisas passadas diversas eu inventava lembrança

Só nos olhos das pessoas é que eu procurava o macio interno delas; só nos onde os olhos

Como é que Diadorim podia ser assim em minha vida o maior segredo?

Por cativa em seu destinozinho de chão, é que árvore abre tantos braços

Nós dois, Riobaldo, a gente, você e eu... por que é que separação é dever tão forte?... (...) Diadorim pensava em amor, mas Diadorim sentia ódio

Passeei um carinho nas faces dele

Para ser alto nesta vida tem de aprender, é topar firme as invejas dos outros restantes...

Sorte é isto. Merecer e ter

Ah! As coisas influentes da vida chegam assim sorrateiras, ladroalmente

Olhei para cima: pegaram nas núvens do céu com mãos de azul

Diadorim meu amigo estava

Dormi com a cara na lua. Acordei. A madrugada com luar.

Madrugada essa boa claridade. Luar que só o sertão viu

Tornar a encontrar companhia desses, aí é que se põe significado na vida

Diadorim, de meu amor - põe o pézinho em cera branca, que eu rastreio a flor de tuas passadas

O rio não quer ir a nenhuma parte, ele quer é chegar mais grosso, mais fundo

Um homem é escuro, no meio do luar da lua

Dentro de mim eu tenho um sono, e mas fora de mim eu vejo um sonho -- um sonho eu tive

O amor de alguém, à gente, muito forte, espanta e rebate, como coisa sempre inesperada

Coração dá tantas mudanças

O pássaro que se separa de outro, vai voando adeus o tempo todo

Quando a madrugada bateu as asas, eu já estava abotoando as esporas

Razão e feijão todo dia dão renovas

Arte de jagunço, meu chefe? Isto é ofício bonito, para o vivo

A poeira avermelhava e branqueava: poeiras que punham o vento mais áspero

Diadorim, que era o Menino, que era o Reinaldo. E eu.

O sertão é bom. Tudo aqui é perdido, tudo aqui é achado.

O sertão é confusão em grande demasiado sossego

Tu é existível

O sertão carece... um homem forte, ambulante

Aí, no rever do instante,percebi os olhos de Diadorim

Aqui digo: que se tema por amor; mas que, por amor, também, é que a coragem se faz

A lembrança dum inimigo deixa qualquer homem agastado!

Pouco se vive, e muito se vê

Um outro pode ser a gente, mas a gente não pode ser o outro, nem convém...

A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada

Boa noite o senhor tenha (...) com um aprazível amanhecer...

O que nesta vida muda com mais presteza: é luto de noruega, caminhos de anta em setembro e outubro, e negócios dos sentimentos da gente

Só quando se tem rio fundo, ou cava de buraco, é que a gente põe riba põe ponte

De todos, menos vi  Diadorim... ele era o em silêncios

Quieto, muito quieto é que a gente chama o amor: como em quieto as coisas chamam a gente

Ainda hoje, o suceder deste meu coração copia o eco daquele tempo, e qualquer fio de meu cabelo branco que o senhor arranque, declara o real daquilo

Ah, só no azul do anoitecer, é que o chapadão tem fim

Um menino nasceu -- o mundo tornou a começar!...

O amor dá as costas a toda reprovação

Meu sertão, meu regozijo!

Viajor

O Demo
O Tisnado

Aprazia escutar o ventinho do chapadão, com o suave rumor que assopra e faz  nas folhas do bate-caixa

E o diabo não há! Nenhum. É o que tanto digo. Eu não vendi minha alma. Não assinei finco. Diadorim não sabia de nada. Diadorim só desconfiava de meus mesmos ares. Escuto o claro riso dele,  que era raramente; quer dizer: me alembro

Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa -- a inteira -- cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver - e essa pauta cada um tem - mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar; como é que, , sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas,  esse norteado, tem. Tem que ter. Se não, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que é.

Para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa

Para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em teatro, para cada representador

Digo ao senhor: O diabo não existe, não há, e a ele eu vendi a alma...Meu medo é este. A quem vendi? Medo meu é este, meu senhor: então, a alma, a gente vende, só, é sem nenhum comprador...

O que dá forma, dá desdém

O amor só mente para dizer maior verdades

Diadorim: que, bastava ele me olhar com os olhos verdes tão em sonhos, e, por mesmo de minha vergonha, escondido de mim mesmo eu gostava do cheiro dele, do existir dele, do morno que a mão dele passava para a minha mão. (...) Eu era dois, diversos? O que não entendo hoje, naquele tempo eu não sabia

O dia  vindo depois da noite - esse é o motivo dos passarinhos...

Os passarinhos se piam de distância

O senhor nunca pense cheio no  demo

O que não existe de se ver tem força completa demais em certas ocasiões

Diadorim era um impossível

O Maligno
O Sujo
O Arrenegado
O Dê

Fomos desabalando, que doidejo

Homem tem nôjo é do humano

Chefe não era para arrecadar vantagens, mas para emendar o defeituoso

Não sou do demo e não sou de Deus

Um homem é um homem, no que não vê e no que consome

Diadorim (...) o realce de alguma coisa que o entender da gente por si não alcança

Mas Diadorim, conforme diante de mim estava parado, reluzia no rosto, com uma beleza ainda maior, fora de todo comum. Os olhos - vislumbre meu - que cresciam sem beira, dum verde de outros verdes, como o de nenhum pasto. E tudo meio se sombreava, mas só de boa doçura

Sobre o que juro ao senhor: Diadorim, nas asas do instante, na pessoa dele vi foi a imagem tão formosa da minha Nossa Senhora da Abadia!

Eu estava separado dele por um fogueirão, por alta cerca de achas, por profundo valo, por larguez enorme dum rio em enchente. De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rústico em suas ações?!

O sertão não tem janelas nem portas. E a regra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa.

A vida é um vago variado

Dinheiro é sempre amigo-seja

Deus é urgente sem pressa. O sertão é dele.

Só aquele sol, a assaz claridade -- o mundo limpava que nem um tremer  d'água. Sertão foi feito é para ser sempre assim: alegrias!

Porque, viver é muito perigoso...

Diadorim, o rosto dele era fresco, a boca de amor; mas o orgulho dele condescendia uma tristeza.

A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Tem as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do Cão, e as vertentes do viver.

Para vencer justo o senhor não olhe e nem veja o inimigo

Era um feio mundo, por si, exagerado

A gente estava encostado no sol

O céu enuveou, o que deu pronto mormaço, e refresco

Aos poucos o senhor vai , crescendo e se esquecendo

para meu sofrer, muito me lembro. Diadorim, todo formosura

picapau vôa é duvidando do ar

sofri os pavores disso... da mão da gente ser capaz de ato sem o pensamento ter tempo

O sertão não chama ninguém às claras; mais, porém, se esconde e acena. Mas o sertão de repente se estremesse, debaixo da gente...

Dói sempre na gente, alguma vez, todo amor achável, que algum dia se desprezou...

Quase...

A vida é um vago variado.

Dinheiro é sempre amigo-seja

tive fé em mim sozinho

se carece ter muita coragem

Não baboseio

Quartel de mandioca, em qualquer parte se planta

roça também se semeia

tarde foi que entendi mais que meus olhos  antigos tempos

eu gostava de Diadorim(...) aumentado

era só uma recordação

homens com homens de mãos dadas só se a valentia deles for enorme

Que: coragem-- é o que o coração bate

Ttravessia - do sertão-- a toda travessia

só aquele sol, a assaz claridade

sertão foi feito é para ser sempre assim: alegrias!

Avermelhadas campinas

Do prazer mesmo sai a estonteação (...)

Porque, viver é muito perigoso...

Diadorim, o rosto dele era fresco, a boca de amor; mas o orgulho dele condescendia uma tristeza

 Matéria daquilo que me desencontrava

Senhor crê, sem estar esperando?

Ainda hoje (...) eu peço espantos

Agora, eu velho, vejo: quando cojito, quando relembro, conheço que naquele tempo eu girava leve demais, e assoprado

Deus é urgente sem pressa

corujão voa(...) de silêncio em silêncio

a invenção minha era uma, os minutos todos

Grotão onde cabe o mar e com tantos enormes degraus de florestas, o rio passa lá no mais meio, oculto do fundo

No que eu no meu destino não pensei. Diadorim em sombra de amor, foi que me perguntou aquilo:
Riobaldo, tu achasses que, uma coisa mal principiada, algum dia pode que terá bom fim feliz?
(...)

Diadorim persistiu calado, guardou o fino de sua pessoa

Não sabia que nós dois estávamos desencontrados, por meu castigo. Hoje, eu sei; isto é: padeci.

Homem, sei? A vida é muito discordada. Tem partes. Tem artes. Team as neblinas de Siruiz. Tem as caras todas do cão, e as vertentes do viver

Descia e subia a fumaça da noite. Esbarramos. Era uma curta vereda, duns brejos, buritizalzinho. Acendemos fogo. Aí mal dormi, fortíssimo no meu segredo. (...) Reprazer crú dessa espiritação - eu ardia em mim (...)

Adiante da gente, o mangabeiral. Depois, o raso

Naquela hora, eu só não me desconheci, porque bebi de mim -- esses mares

Só que o sertão é grande ocultado demais

para vencer justo, o senhor não olhe e nem veja o inimigo

O dia parava famoso, suando sol, mesmo o vento suspendido. Vi o chão mudar, com a cor de velho, e as lagartixas que percorriam de leve, por debaixo das moitas de caculucaje

Vi uma coruja(...), e coruja só agoura mesmo é em centro de noite, quando dá para risã

Eu queria tudo, sem nada!

Aprofundar naquele raso perverso - o chão esturricado, solidão, chão aventêsma - mas sem preparativos nenhum

Para que eu carecia de tantos embaraços? pois os próprios antigos não sabem que um dia virá, quando a gente permanecer deitada em rede ou cama, e as enxadas saindo sozinhas para capinar roça, e as foices, para colherem por si, e o carro indo por sua lei buscar a colheita (...) isso não pensei -- mas meu coração pensava

Só melhor sozinho eu ia

Jagunço não despreza quem dá ordens diabradas

Antes de mesmo nascer, hora de sua morte está marcada

Sol em glória. Eu pensei em Otacília; pensei, como se um beijo mandasse soltando rédeas, entrei nos horizontes. Aonde entrei, na areia cinzenta, todos me acompanhando e os cavalos, vagarozos; viajava como dentro dum mar

Águas não desmanchava meu torrão de sal

Rasgamos sertão. Só o real

O chão sem vestir

A gente estava encostada no sol, mas com a sorte nos mandada o céu  enuveou, o que deu pronto mormaço, e refresco

A uns lugares estranhos. Ali tinha carrapato... que é que chupavam, por seu mudinho viver?

Não era só capim áspero, ou planta peluda como um gambá morto, o cabeça-de-frade pintarrôxa, um mandacuru que assustava. Ou o xique-xique que espinharol, cobrejando com suas lagartonas, aquilo que, em chuvas, de flor dói em branco

Começavam as folhagens - que eram urtigão e assa-peixe

e os neves, mas de par a tinta-dos-gentíos de flor helazul, que é o anil-trepador, e  até essas sertaneja - assim e a maria-zipe, amarelas, respingou de orvalhosas, e a sinhazinha, muito melindrosa flor, que também guarda muito orvalho, orvalho pesa tanto: parece que as folhas vão murchar.(...) e a quixabeira que dava quixabas

Digo - se achava água (...) em lugar onde foi corrego morto, cacimba d´água, viável, para os cavalos.

Entã, o alegria (...) água que dava prazer em se olhar.

Devido que, nas beiras -- o senhor crê? -- se via a coragem de árvores, árvores de mata, inda que pouco altaneiras: simaruba, o aniz, canela-d-brejo, pau -amarante, o pombo

Existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver e (...) mas a a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que, sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter, se não, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que é

Para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa.

Para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em teatro, para cada representador - sua parte, que antes já foi inventada, num papel...

Olhe: tudo o que não é oração, é maluqueira...

Digo ao senhor: o diabo não existe, não há, e a ele eu vendi a alma... Meu medo é este. A quem vendi? Meu medo é este, meu senhor: então, a alma, a gente vende, só, é sem nenhum comprador...

Como é que a coruja conseguiu modo  de poder voar sem se escutar o rumor do voo?

Tudo, nesta vida, é muito contável.

Otacília - me alembrei (...) no demorar dos olhares dela. O corpo (...) todo formoso, que era de se ver e logo decorar exato. (...) Isso tudo então não era amor?

Para  meu sofrer, muito me lembro. Diadorim, todo formosura.

(...) De medo não tremia, que era de amor -- hoje sei

--"Riobaldo, o cumprir de nossa vingança, vem perto... Daí, quando estiver repago e refeito, um segredo, uma coisa, vou contar a você..." Ele disse com o amor no fato das palavras.

Eu ouvi. Ouvi, mas mentido. Eu estava longe de mim e dele. Do que Diadorim mais me disse, desentendi metade

Só sei que, no meio reino do sol, no feito parássemos numa noite demais clareada

Dentro de muito, eu estava aparando uma cena, que era um jumentinho, um jegue já selvagem caatingano (...)

Eu não tinha de tomar tento em coisas mais graves? Mire veja o senhor. Picapau vôa é duvidando do ar.

Zé Bebelo era projestista. Eu, ia por meu constante palpite

Queria ver ainda uma igreja grande, brancas torres, reinando de alto sino, no Estado do Chapadão. E o diabo não há! Nenhum.

Diadorim (...) Escuto o claro riso dele, que era raramente: quer dizer: me alembro

Sertão não é malino nem caridoso

(...) ele tira ou dá, ou agrada, ou amarga

Ermo meu?

Do que hoje  sei, tiro passadas valias?

Se o que aconteceu não tivesse acontecido? Como havia de ter sido a ser? Memórias que não me dão fundamento. O passado - é ossos em redor de ninho de coruja...

O sertão não chama ninguém às claras: mas o sertão de repente se estremece, debaixo da gente

Dói sempre na gente, (...) todo amor achável, que algum dia se desprezou...

Mas, como jagunços, que se era, a gente ropeu adiante e... sobre os gerais planos de areia, cheios de nada

Tocamos, querendo o poente e tateando tudo, chapada sem lugar de fim

O passado  é ossos em ninho de coruja

O frio desdiz com jagunço

Estórias!

O senhor tenha na ordem, sem quinhão de boa alegria, que até o sertão ermo satisfaz

O chapadão tão alargante . Lá o céu é repousos.

Sossego traz desejos

Eu queria delícias de mulher, isto para embelezar horas da vida

O sertão se sabe só por alto. Mas, ou ele ajuda, com enorme poder, ou é traiçoeiro muito desastroso

Eu tinha deixado de parte todas as minhas dúvidas de viver, e que apreciava o só-estar do corpo

O Rio Urucúia (...) desliza: o sol, nele, é que se palpita no que apalpa

Nós dois em dianteira,  par de homens; um diabo de calor; (...) céu e céu em azul, ao deusdar

O senhor vai ver, em Goiás, como no mundo cabe mundo

Diadorim repuxou freio,  e esbarrou; e,  com os olhos limpos, limpos, ele me olhou muito contemplado. Vagaroso, que dizendo: -- " Riobaldo, hoje - - dia eu nem sei o que sei, e;  o que  soubesse, deixei de saber o que sabia..."

Indo vou com meu coração que bate agora presente, mas com o coração de tempo passado... E digo..."

O Urucúia -- lá onde houve matas sem sol nem idade.

A mata de São Miguel é enorme -- sombreia o mundo...

Um dia, o medo consegue subir, faz oco no ânimo do mais valente qualquer...
(...) -- " Tudo na vida cumpre  essa regra..."

Eu sei: quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade

Comandar é só assim: ficar quieto e ter mais coragem

Tempo é a vida da morte: imperfeição"



MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS

                                                                                     (Manuel Antonio de Almeida)


"O Leonardo estremeceu por dentro, e pediu ao céu que a lua fosse eterna.

Dias felizes do primeiro amor.

Quando o amor e o ciúme lhe ocupavam a alma.

Quando temos apenas dezoito a vinte anos sobre os ombros, o que é um peso ainda muito leve desprezamos o passado, rimo-nos do presente, e entregamo-nos descuidados a essa confiança cega no dia de amanhã, que é o melhor apanágio da mocidade.

É uma grande desgraça não corresponder a mulher a quem amamos aos nossos afetos.

O coração da mulher é assim, parece feito de palha, incendeia-se com facilidade, produz muita fumaça, mas em cinco minutos é tudo cinza que o mais leve sopro espelha e desvanece.

Em certos corações o amor é assim,  tudo quanto tem de terno, de  dedicado, de fiel, desaparece depois de certas provas, e transforma-se num incurável ódio.

É muito antigo dizer-se que há uma coisa ainda pior do que um inimigo, e é um mau amigo.

Indiferença (..) é talvez o pior de todos os ódios.

O verdadeiro amor é o primeiro

O último (amor) é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda."



MACUNAÍMA

O sol, esfiapando por entre a folhagem.

Quem quer cavalo sem tacha anda de a-pé.

E o silêncio alargando tudo ...

Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são.

É São Paulo construída sobre sete colinas (...) e beija-lhe os pés a grácil (...) linfa do Tietê. (..) Cidade belíssima(...) Toda cortada de ruas habilmente estreitas tomadas por estátuas e lampiões.

Nocéu escampado da noite não tive uma núvem .

gato miador, pouco caçador.

Canudo que teve pimenta guarda o ardume.



SÃO BERNARDO

O luar estava muito branco. Um pedaço da mata aparecia, longe, e distinguiam-se as flores amarelas dos paus-d'arco.

Quem dá o que tem a pedir vem.

Mulher é  um bicho esquisito, difícil de governar.

Lá fora os sapos arengavam, o vento gemia, as árvores do pomar tornavam-se massas negras.

Mais vale uma boa amigação que certos casamentos.

No pensamento de outra pessoa ninguém vai.

Cavalo amarrado também come.

SAGARANA

Burra não amansa nunca de todo, só se acostuma!...

Céu destapado - uma tinta compacta.

De noite saiu uma lua rodoleira, que alumiava até passeio de pulga no chão.

A gente deve de ficar é na terra sua, por não precisar de ver muita coisa feia, que por este mundo tem.

Mas, linda, linda como uma alegria chorando, uma alegria judiada, que ficou triste de repente.

Aquilo saía gemido e tremido, e vinha bulir com o coração da gente.

Deixa o menino chorar suas mágoas, que o pobre está com a alminha dele enlatada na garganta.

É andando que cachorro acha osso.

Quem tem mulher bonita e nova, deve de trazer debaixo de olho.

Isso, que remoça. Isso é reger o  viver.

Com chefe bom a gente chega longe.

As mulheres têm sempre razão.

Chorar sério faz bem.

A placidez do ambiente lhe ia adoçando a alma.

Igrejinhas branquejando.

Grandes campos, monótonos, se ondulavam, sob o céu.

Corguinho amável.

E a estrada subia e descia. A tarde tinha recuado um resto de cirros.

Em noite de roça, tudo é canto e recanto. E há sempre um cachorro latindo longe, no fundo do mundo.

Noite sem lua, concha sem pérola. Só silhueta de árvores. E um vagalume lanterneiro, que riscou um psiu de luz.

A CIDADE E AS SERRAS

Cidade [...] ilusão perversa.

Não há nada novo sob o sol, e a eterna repetição das coisas é a eterna repetição dos males. Quanto mais se sabe mais se pena. E o justo como o perverso, nascidos do pó, em pó se tornam. Tudo tende ao pó efêmero, em Jerusalém e em Paris!

A todo o viver corresponde um sofrer.